Com 133 cardeais reunidos em Roma, Igreja Católica inicia processo de sucessão do papa Francisco


A Capela Sistina será, mais uma vez, o cenário onde a história da Igreja Católica se reinventa. Nesta quarta-feira (7), às 11h30 (horário de Brasília), os 133 cardeais com direito a voto iniciam o conclave que vai escolher o próximo líder da fé católica, em um ritual secular que combina tradição, sigilo e decisões que ecoam pelo mundo. O processo foi deflagrado após a morte do papa Francisco no mês passado, e deve se estender por dias, já que, historicamente, nenhuma eleição papal se resolve na primeira votação.

Após uma missa solene na Basílica de São Pedro, os cardeais adentraram a capela com o peso simbólico e espiritual da missão que os espera: eleger o 267º pontífice da Igreja Católica. Como em séculos anteriores, eles se isolam completamente do mundo exterior, sem acesso a celulares ou comunicação com o público, até que um nome alcance a maioria qualificada de dois terços dos votos.

A fumaça que sai da chaminé instalada no alto da Capela Sistina seguirá sendo o canal entre o Vaticano e o mundo: preta, quando não houver decisão; branca, quando um novo papa for escolhido. Também soarão os sinos da basílica, anunciando que a Igreja, com seus 1,4 bilhão de fiéis, tem um novo representante.

Durante a missa de abertura, o cardeal italiano Giovanni Battista Re, que presidiu o rito apesar de não participar do conclave por ter mais de 80 anos, instou os colegas a deixarem de lado interesses pessoais e pensarem “apenas no bem da Igreja e da humanidade”. Seu discurso reforçou a ideia de que a escolha deve contemplar a diversidade e a unidade, sem abrir mão da responsabilidade global que o posto exige.

A sucessão papal divide opiniões dentro do colégio cardinalício. Enquanto parte dos cardeais defende a continuidade do legado progressista e reformista de Francisco, outros clamam por um retorno às tradições mais conservadoras. O desejo mais comum, no entanto, parece ser por um pontificado mais previsível e equilibrado. “Não haverá um retrocesso”, afirmou o cardeal salvadorenho Gregorio Rosa Chávez, de 82 anos. “Isso não é possível.”

Entre os nomes que circulam nos bastidores, destacam-se o italiano Pietro Parolin, o filipino Luis Antonio Tagle e o francês Jean-Marc Aveline, além de candidatos como o húngaro Peter Erdo, o americano Robert Prevost e o italiano Pierbattista Pizzaballa. Mesmo assim, não há favoritos claros, e a dinâmica do conclave pode surpreender, com alianças surgindo por afinidade regional, doutrinária ou linguística.

A configuração atual do colégio cardinalício é a mais diversa da história: 133 eleitores de 70 países, contra os 115 cardeais de 48 nações que participaram do conclave de 2013. Esse aumento reflete os esforços de Francisco em ampliar o alcance da Igreja para além da Europa, promovendo líderes de regiões com comunidades católicas menores, mas em crescimento.

Durante o conclave, o Vaticano intensifica medidas de segurança e sigilo com o uso de bloqueadores de sinal e tecnologias antifurto de informação, garantindo que nenhuma informação vaze antes da hora. A média de duração dos últimos dez conclaves é de pouco mais de três dias, e todos foram concluídos em menos de cinco. O último, em 2013, durou apenas dois.

Enquanto o mundo aguarda o anúncio oficial, o clero reza por uma escolha que equilibre continuidade e renovação. “Unidade não significa uniformidade”, disse o cardeal Re em seu sermão, “mas uma comunhão firme e profunda na diversidade”.

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